Desconfinar
por Jorge C Ferreira
Abriram as esplanadas. Abriu a minha esplanada. Fui à inauguração. O meu café e a minha água com gás. Os empregados de máscaras, mas sorridentes. O serviço, o mesmo. As mesas e as cadeiras limpas e desinfectadas. Eu com a minha máscara bico de pato que me entorta as orelhas. Tenho de arranjar maneira de dar a volta a isto. Não quero acabar com as orelhas partidas. A Isabel já arranjou uma solução. Vamos ver se funciona.
Encontro pessoal que não via há muito tempo. Este confinamento foi longo e pesado. Não havia muita agitação. Já várias mesas reservadas para o jantar. O tempo a ajudar. Os cumprimentos com os braços continuam. Trocam-se informações. Quem já foi vacinado, quem não foi. Quem já teve Covid, quem não teve. Como foi tanto tempo sem estes costumes. Como foi o ir ao postigo. O café em copos de cartão, o bolo num saco de papel.
O caminho até à esplanada é curto. O “Lab Gelati” a funcionar. A esplanada e os bancos de metal à disposição. Aqui servem o café com um shot de água gaseificada. A seguir uma loja, muito pequena, com loiça da Vista Alegre e do Rafael Bordalo Pinheiro, estava fechada. De seguida o café de quem fui fiel cliente durante a época do postigo, o café dos queques. Como não tem esplanada continua a vender ao postigo. A agência de viagens abriu finalmente. Ninguém conhecido lá dentro. Viagens não sei para onde. A ourivesaria sem colecções novas, na montra nem uns brincos que me fascinassem. Encomendei, na livraria, o livro do Sr. Comendador Nabeiro. Depois a minha esplanada.
Agora temos quadrados e uma espécie de bóia. Para mim aquilo é um mar de várias tonalidades que o sol lhe veste. A bóia é o indicador dos perigos que a profundidade nos anuncia. É preciso saber nadar para não morrermos afogados. Dizem que é o “RT”. Desde o começo do desconfinamento o dito “RT” subiu. Temos de esperar mais uma semana para ver se não voltamos atrás.
Isto é um vai e vem que nos cansa. As dúvidas constantes. As várias estirpes. As múltiplas variações. Os efeitos secundários das vacinas. Este é outro mar, um mar encapelado. Um mar que nos dá cabo dos nervos. Os nervos presos por fios frágeis. As doenças mentais a aflorarem e a crescerem como uma segunda pandemia.
Nunca vi tanto braço nu e tanta agulha a ser espetada. Será que é necessário? A televisão cansa com tanta tragédia. Desliguem esses aparelhos. Esses cuspidores de veneno. Aconselho: um telejornal por dia. Ler um Jornal em papel. Ler. Ver ou rever um filme. Há filmes que nos marcam. Há livros que nos levam para vidas improváveis. Há pessoas que escrevem nos Jornais e nos fazem pensar. Pensar fora da norma estabelecida é muito importante. Abre-nos horizontes.
Vamo-nos abrir à vida com todos os cuidados necessários.
«Mal as coisas abriram lá foram vocês para o laréu. Que raio de pressa.»
Fala da Isaurinda.
«Um café em chávena sabe bem. Não digas que não. Estava tudo calmo.»
Respondo.
«Tens aí uma máquina. Tinhas de ir logo para a rua. Foste levar a vacina, espera.»
De novo Isaurinda e vai, as mãos cheias de incompreensão.
Jorge C Ferreira Abril/2021(297)
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Maravilhosa Crónica, sobre a realidade que no momento, tanto nos inquieta e não nos dá tréguas. Farto de confinamento, fez a inauguração rumo à sua esplanada predilecta. Como muito bem diz: “Vamo-nos abrir à vida com todos os cuidados necessários.”Que assim seja. De si meu amigo, não tenho dúvidas nenhumas. Sigo o seu conselho, só vejo o telejornal da noite e chega.
Estou a livrar-me do “ mar encapelado. Um mar que me dá conta dos nervos.”
Preciso ver o mar, o mar a sério, aquele que me trás a onda de mansinho e se espraia na areia. O mar que me acalma. Olhar o céu no seu esplendoroso azul, com nuvens brancas e fofas onde o meu imaginário descobre as figuras mais diversas.
Viver a vida que tanto amo.
Pensei bem e vou ficar por casa mais um pouco. E seguir o conselho da Isaurinda, vou continuar a usar a máquina, que tenho em casa.
Embora esteja a desejar, um café na esplanada.
Obrigada, querido escritor por tão belo texto. E porque usei palavras suas, no que aqui escrevo. Grata por tanto, que nos dá. Abraço imenso.
Obrigado Maria Luiza. Continue a cuidar-se
.muito. vamos esperar a onda perfeita. Vamos saltar a sétima. Sempre aquela que nos dá tudo o que pedimos. O café soube-me bem. Um abraço imenso
Ai ai… quem manda ser tão apressado? ninguém foge, logo,logo estaremos todos com o cartão dos ” vacinados” já faltou mais, digo eu que nunca acerto uma, os comentadores, os matemáticos, o bastonário e o ex: confundem-me, não serei única neste caos do diz que disse, uma contrainformação que acredito ser uma alegria para o dito vírus que também acredito ser um ” ser” inteligente. Descansa quando nos sabe quietos, volta a si quando sente que o medo ou o receio se foi. Tudo tão confuso, tudo tão arbitrário que mal por mal continuo num confinamento que me deixa numa percentagem segura, digo e penso eu que saiba ainda existo, por isso penso, se é que o cérebro ainda está com a locomoção pelo menos a noventa e cinco por cento, tenho dias que não sei quantas ando… ouve por uma vez o que a Isaurinda te diz, não faças dela a tua amiga imaginária…. esta foi piada, afinal, ainda consigo divertir-me. Cuida-te, a Isabel também, afinal as mulheres são mais cautelosas, ouve o que ela te possa segredar, se bem que o mata o outra esfola, não fossem vocês almas gêmeas. Abraço!
Obrigado Cecília. Tão bem este teu texto bem disposto. Eu já levei a primeira dose. Astrazeneca. Vamos ver. A Isabel ainda não. Vamo-nos cuidando e ajudando. Esperamos resistir. Cuida-te muito. Abraço
A repetição dos hábitos em liberdade, retomados.
Que seja para bem de todos, se merecermos.
Um abraço, Jorge!
Obrigado António. Temos de saber merecer e de nos respeitarmos para respeitar os outros. Vamos continuar a resistir. Abraço forte
Bela crónica. Maravilhoso o diálogo com a sempre atenta Isaurinda.
O desconfinamento a acontecer. Por um lado, lento, com todos os cuidados recomendados.Por outro, rápido demais, com euforia e excessos.
Começa a cansar. Para mim, com a saúde a ficar cada vez mais debilitada, nada será igual.
Tem razão, meu amigo, as notícias não ajudam nada. Uma tragédia.
O Covid, os testes, as vacinas. As burlas, a justiça. Os interesses acima de tudo. A impunidade geral. Dúvidas e incertezas em tudo.
Mas o que mais dói é a guerra que dízima crianças indefesas, destrói povos e países.
Também eu só vejo um Serviço de Notícias.
Os livros são o meu refúgio.
Fico feliz por ter superado a vacina. Temos que acreditar que nem tudo pode correr mal. Eu continuo a esperar serenamente.
Vamos acreditar que, tudo vai ficar bem.
Continue a cuidar-se. Vamos resistir.
Obrigada por estar sempre presente, com os seus textos únicos.
Grande abraço.
Obrigado Eulália. Muito bom o seu comentário. Este mundo é um lugar que não apetece. Temos de lutar contra a injustiça e resistir. Não se deixe ir abaixo. Forca minha Amiga. Abraço imenso
Mais uma bela crónica sobre a realidade quotidianoa actual. Até quando, até quando ?
Obrigado Eulália. Muito bom o seu comentário. Este mundo é um lugar que não apetece. Temos de lutar contra a injustiça e resistir. Não se deixe ir abaixo. Forca minha Amiga. Abraço imenso
Querido amigo, nestes conturbados tempos, em que não podemos trocar abraços e beijos amigos, em que olhamos ” de revés ” quem por nós passa, mais próximo, os cafés fechados, as gentes disfarçadas com máscaras, ” bom dia, como vai; obrigadas, estou bem( quem era? pergunto a mim própria.), é tudo muito estranho. Mas, quando e como será a próxima (?) normalidade?. Não sei se a Isaurinda não terá razão. Será que deixaram o postigo cedo demais? Eu tomo o café em casa, mas não é a mesma coisa. Eu não me sinto “eu “. quem serei, agora?. Gostei do teu texto. Vou enviá-lo. Será que segue? Este Jornal não gosta de mim !!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Beijinhos <3 <3
Obrigado Ivone, minha querida Amiga/Irmã. Tão importante o que dizes. Os afectos. O abraço que te dei é tão longínquo. Mas não o esqueço. Na memória nos reinventamos. Resistir. Abraço apertado
Por vezes tenho dificuldade em colocar no tempo, estes tempos, fico na dúvida se aconteceu há muito ou será imaginação de um futuro sombrio. É o presente que vivemos e não conhecemos. Como será ler o teu texto num futuro longínquo? Vamos abrir-nos à vida, como dizes. Meu amigo Obrigada pelo texto. Abraço grande.
Obrigado Regina. Sabes, eu acho que este tempo não tem penso. É uma coisa que nos foi roubada. Uma vida a desgraçar-se. Abraço-te muito
“Vamo-nos abrir à vida com todos os cuidados necessários”, mestre.
Abraço
Obrigado Cristina. Sim minha Amiga. Com muito cuidado. Vamos calar os charlatães abraço grande